Casado com
Sarah Kubitschek, com quem teve as filhas
Márcia Kubitschek e
Maria Estela Kubitschek, foi o responsável pela construção de uma nova capital federal,
Brasília, executando, assim,um antigo projeto, já previsto em três constituições brasileiras, da mudança da capital federal do Brasil para promover o desenvolvimento do interior do Brasil e a integração do
país.
Durante todo o seu mandato como presidente da República, (1956-1961), o Brasil viveu um período de notável
desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política. Com um estilo de governo inovador na
política brasileira, Juscelino construiu em torno de si uma aura de simpatia e confiança entre os brasileiros.
Juscelino Kubitschek é, ainda hoje, um dos políticos mais admirados do cenário político do Brasil, aparecendo, junto com
Getúlio Vargas, nas pesquisas de opinião pública, como os dois presidentes preferidos pelos brasileiros.
Segundo seu adversário
José Sarney, Juscelino foi o melhor presidente que o Brasil já teve, por sua habilidade política, por suas realizações e pelo seu respeito às instituições democráticas.
[1]No ano de 2001, Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito o "
Brasileiro do Século" em uma eleição que foi publicada pela revista
Isto É.
Origem e carreira política
Juscelino nasceu, em 12 de setembro de 1902, em Diamantina. Seu pai, João César de Oliveira (1872-1905), foi caixeiro-viajante e exerceu, também, várias outras profissões. Sua mãe, Júlia Kubitschek (1873-1971), era professora e possuía ascendência checa (seu sobrenome é uma germanização do original tcheco Kubíček) e etnia cigana[2] — JK foi o único presidente de origem cigana em todo o mundo. Juscelino perdeu o pai aos três anos de idade, e, a partir de então, a única fonte de renda da família era o trabalho de sua mãe, JK gostava muito de
futebol, e tinha simpatia pelo
América Mineiro, onde atuou como jogador amador, e, sempre que podia, acompanhava partidas daquele time. Também foi apreciador das
serenatas e
serestas. Estudou no
seminário diocesano de Diamantina, dirigido pelos
padres vicentinos, onde concluiu o curso de humanidades aos 15 anos incompletos. Depois estudou
medicina na
Universidade Federal de Minas Gerais, em
Belo Horizonte, formando-se, em
1927, na mesma turma de
Pedro Nava e de
Pedro Salles, três anos antes de
Guimarães Rosa e quatro antes de
Oswaldo Costa.
Casou-se, com Sarah Gomes de Lemos, em
1931. Em
1932, foi nomeado como capitão-médico da
Polícia Militar de Minas Gerais. JK era cirurgião especializado em
urologia, tendo estagiado no Hospital Cochin, em
Paris, com um dos maiores urologistas do mundo, Maurice Chevasseu.
Durante a
revolução constitucionalista de 1932, como médico, serviu nas tropas mineiras que combatiam as tropas paulistas. JK serviu, no célebre "Túnel da Mantiqueira", como cirurgião da polícia militar, acompanhando seu professor na faculdade, Otaviano de Almeida que montara um hospital em vagões ferroviários. Ali, operou o ferimento à bala do crânio de um soldado que sobreviveu sem sequela.
[5]Destacou-se muito por sua oratória.[6] Seus discursos mais importantes, com as frases que ficaram famosas, como "Deus me poupou o sentimento do medo", foram escritos pelo poeta Augusto Frederico Schmidt. Juscelino destacou-se, também, na chamada política de bastidores, (as articulações políticas bem trabalhadas), típica de Minas Gerais e de seu segundo partido político, o PSD. Destacou-se mais, entretanto, nos cargos executivos que ocupou, e, pela sua atuação neles, ficou conhecido como um político do tipo "tocador de obras".
Cargos executivos
Placa de inauguração de
1943, época em que JK era prefeito de Belo Horizonte.
- Prefeito de Belo Horizonte de 19 de outubro de 1940 a 30 de outubro de 1945, nomeado pelo então governador de Minas Gerais Benedito Valadares. Seu mandato terminou com a queda do Estado Novoquando os interventores e prefeitos nomeados durante o Estado Novo foram exonerados de seus cargos. Recebeu o apelido de "Prefeito Furacão", deixou um rico acervo arquitetônico em grande parte assinado pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer, urbanizou a região da bacia da Pampulha, pavimentou a Avenida do Contorno e a Avenida Amazonas e criou vários bairros em Belo Horizonte.
- Governador de Minas Gerais, de 31 de janeiro de 1951 a 31 de março de 1955, quando passou o governo para Clóvis Salgado para poder se candidatar à presidência da República. Um ponto decisivo para que o PSD escolhesse JK como seu candidato ao governo de Minas foi que JK conseguiu o apoio do PR deArtur Bernardes à candidatura do PSD. O PR elegeu, então, Clóvis Salgado como vice governador de Minas Gerais. Sua administração estadual foi muito dinâmica: Criou, em 1952, a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), construiu cinco usinas hidrelétricas e abriu mais de três mil quilômetros de rodovias, o que lhe rendeu projeção nacional; seu lema era o Binômio Energia e Transporte. A maior dificuldade que enfrentou como governador foi uma revolta ocorrida em Uberaba, em 1952, contra os elevados impostos estaduais.[9] Prometeu, em 1952, que, em dois anos, construiria uma usina siderúrgica e cumpriu: em 12 de agosto de 1954 foi inaugurada, com a presença do presidente Getúlio Vargas, a Siderúrgica Mannesmann, na região metropolitana de Belo Horizonte.
- Presidente da República de 1956 a 1961, cumprindo um mandato único de 5 anos. Não havia reeleição naquela época. Foi o primeiro presidente civil desde Artur Bernardes a cumprir integralmente seu mandato. Foi eleito com 36% dos votos válidos por uma coligação doPSD com o PTB, que elegeu João Goulart, do PTB, como seu vice-presidente. Juscelino Kubitschek empolgou o país com seu reclame: "Cinquenta anos em cinco", conseguiu encetar um processo de rápida industrialização, tendo como carro-chefe a indústria automobilística. Houve, no seu governo, um forte crescimento econômico, porém, houve também um significativo aumento da dívida pública interna e da dívida externa e da inflação nos governos seguintes de Jânio Quadros e João Goulart. Os anos de seu governo são lembrados como "Os Anos Dourados", coincidindo com a fase de prosperidade norte-americana conhecida como "The Great American Celebration", a qual se caracterizou pela baixa inflação e pelas elevadas taxas de crescimento da economia e do padrão de vida dos norte-americanos.
A eleição de Juscelino Kubitschek à presidência da República
Cerimônia de posse de Juscelino Kubitschek, com o presidente
Nereu Ramos passando-lhe a presidência
Pela aliança
PSD-
PTB, Juscelino foi eleito Presidente da República, em
3 de outubro de
1955, com 36% dos votos válidos, a menor votação de todos os presidentes eleitos de 1945 a 1960. O vice governador de Minas Gerais
Clóvis Salgado terminou o mandato de JK que renunciou ao governo do Minas Gerais para concorrer à presidência da república.
Naquela época as eleições se realizavam em turno único. Nesta eleição, pela primeira vez no Brasil, se utilizou a cédula eleitoral oficial confeccionada pela
Justiça Eleitoral. Antes de 1955 os próprios
partidos políticos confeccionavam e distribuíam as cédulas eleitorais.
Foi difícil o lançamento da candidatura de Juscelino, pois se acreditava em um veto militar a ela: JK era acusado de ser apoiado pelos
comunistas. Somente quando o presidente da república
Café Filho divulgou a carta dos militares na
Voz do Brasil foi que Juscelino se lançou candidato, alegando que a carta dos militares não citava o seu nome.
Para dar legitimidade e prestígio à sua candidatura a presidente, JK visitou o já idoso e venerando ex-presidente da república
Venceslau Brás em sua residência no sul de Minas. Pediu e conseguiu o apoio do antigo presidente à sua candidatura.
A UDN tentou impugnar o resultado da eleição, sob a alegação de que Juscelino não obteve vitória por maioria absoluta dos votos. A posse de Juscelino e do vice-presidente eleito
João Goulart só foi garantida com um levante militar liderado pelo
ministro da Guerra, general
Henrique Teixeira Lott, que, em
11 de novembro de
1955, depôs o então presidente interino da República
Carlos Luz. Suspeitava-se que Carlos Luz, da
UDN, não daria posse ao presidente eleito Juscelino. Assumiu a presidência, após o
golpe de 11 de novembro, o presidente do Senado Federal,
Nereu Ramos, do partido de JK, o PSD. Nereu Ramos concluiu o mandato de Getúlio Vargas que fora eleito para governar de 1951 a 1956. O Brasil permaneceu em
estado de sítio até a posse de JK em
31 de janeiro de 1956.
Aspectos marcantes do seu mandato como presidente do Brasil
O Plano de Metas
Em seu mandato presidencial, Juscelino lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado de
Plano de Metas, que tinha o célebre lema "
Cinquenta anos em cinco".
O plano tinha 31 metas distribuídas em 5 grandes grupos: Energia, Transportes, Alimentação, Indústria de base, Educação, e, a meta principal ou meta-síntese:
Brasília. O Plano de Metas visava estimular a diversificação e o crescimento da
economia brasileira, baseado na expansão
industrial e na integração dos povos de todas as regiões do Brasil através da nova capital localizada no centro do território brasileiro, na região do
Brasil Central.
A estratégia do Plano de Metas era corrigir os "
pontos de estrangulamento" da economia brasileira, em termos atuais "reduzir o
custo brasil", que poderiam estancar o crescimento econômico brasileiro (por falta de estradas e energia elétrica) e reduzir a dependência das importações, no processo chamado de "
substituição de importações", já que o Brasil padecia de uma crônica falta de divisas externas (dólares).
A convivência democrática
Juscelino Kubitschek Bridge
Outro fato importante do governo de JK foi a manutenção do regime democrático e da estabilidade política, que gerou um clima de confiança e de esperança no futuro entre os brasileiros. Teve grande habilidade política para conciliar os diversos setores da sociedade brasileira, mostrando-lhes as vantagens de cada setor dentro da estratégia de desenvolvimento de seu governo.
JK evitou qualquer confronto direto com seus adversários políticos e apelou a eles para que fizessem oposição sempre dentro das leis democráticas. Anistiou os
militares revoltosos de
Jacareacanga e
Aragarças. Sendo que muitos políticos da
UDN, (adversária do PSD de Juscelino), o apoiavam, ficando, estes políticos, conhecidos como a
UDN chapa-branca.
Outro momento de tensão política do governo JK foi, em 23 de novembro de 1956, quando Jk ordenou a prisão domiciliar do general
Juarez Távora, que JK havia derrotado nas eleições de 1955, por Juarez Távora ter desafiado a ordem de JK, dada em 21 de novembro de 1956, que proibia os militares de fazerem manifestação ou comentário político. O ministro da Guerra, Henrique Lott, cumpriu a ordem de prisão, mas pediu exoneração do cargo, porém voltou atrás. Com sua atitude enérgica e apoio de Lott, JK se fortaleceu entre os militares, setor em que tinha antes pouca aceitação e prestígio. JK fechou, também, em novembro de 1956, a "
Frente de Novembro" e o "
Clube da Lanterna", que faziam oposição a JK.
Seu maior adversário político foi
Carlos Lacerda com o qual se reconciliou posteriormente. Juscelino não permitiu o acesso de
Carlos Lacerda à
televisão durante todo o seu governo. Juscelino confessou a Lacerda, depois, que se tivesse deixado Lacerda ter acesso a televisão, este o derrubaria.
A Economia brasileira e as obras realizadas
O governo de Juscelino Kubitschek usou uma plataforma nacional desenvolvimentista, o
Plano de Metas, lançado em
1956, e permitiu a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro. Isentou de impostos de importação as máquinas e equipamentos industriais, assim como liberou a entrada de capitais externos em investimentos de risco, desde que associados ao capital nacional ("capital associado"). Para ampliar o mercado interno, o plano ofereceu uma generosa política de crédito ao consumidor.
JK promoveu a implantação da indústria automobilística com a vinda de fábricas de automóveis para o Brasil, promoveu a indústria naval, a expansão da indústria pesada, a construção de usinas siderúrgicas e de grande usinas hidrelétricas, como a
Furnas localizada em
São João da Barra e a
Três Marias. A construção de Furnas foi iniciada em 1957 e concluída em 1963. Furnas formou um dos maiores lagos artificiais do mundo que banha 34 municípios mineiros e que ficou conhecido como o "
Mar de Minas Gerais".
Abriu as rodovias transregionais que uniram todas as regiões do Brasil, antes sem ligação rodoviária entre elas. Aumentou a produção de petróleo da
PETROBRAS. Com exceção das empresas de energia hidrelétrica, Juscelino praticamente não criou nenhuma empresa estatal.
Em 15 de dezembro de
1959, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste,
Sudene, para integrar a região ao mercado nacional. Também em 1959, Juscelino rompeu com o
FMI por não aceitar a reforma cambial pedida pelo FMI.
Devido à semelhança no desenvolvimento das políticas económicas de ambos os líderes, Juscelino Kubitschek é muitas vezes comparado a seu colega argentino,
Arturo Frondizi.
[12][13][14]Entre 1959 e 1960, houve uma crise na obra de construção de Brasília. As verbas haviam acabado e JK entendia que não poderia terminar o governo sem construir Brasília. JK rompeu com o
FMI, pois este havia proposto reformas econômicas que não seguiam o seu modelo de governo, e, sendo assim, precisou agir de outra forma para conseguir o capital para terminar Brasília. JK emitiu títulos da
dívida pública e cartas precatórias. Estas consistem em papéis negociados na
bolsa de valorespara se conseguir capital de curto prazo. JK vendeu esses papéis com
deságio, ou seja, com um preço abaixo do valor de mercado que poderia ser recuperado posteriormente em um prazo de 5 anos. Com isso, JK conseguiu dinheiro para terminar a construção de Brasília. Isso, no entanto, fez com que JK fosse acusado de inviabilizar os próximos governos do país, por aumentar a dívida pública federal.
Junto com Brasília, uma grande obra rodoviária ajudou muito o povoamento e desenvolvimento do
Brasil Central e da
Amazônia:A rodovia
BR-153 (antiga BR-14), também conhecida como "
Rodovia Belém-Brasília". Outras obras rodoviárias importantes ligando regiões brasileiras, feitas por Juscelino, foram:
O governador de Rondônia na época,
Paulo Nunes Leal, em seu livro "
O outro braço da Cruz", conta como conseguiu de JK a construção da BR-364 em
2 de fevereiro de 1960:
"- Sr. Presidente!
- Diga Paulo!
- O Sr. já ligou Brasília ao Centro-Sul, ao Nordeste e a Belém. Por que o Sr. não faz o outro braço da cruz, ligando Brasília ao Acre?
- Uai, Paulo! E pode?
- Pode, Sr. Presidente! Mas é negócio pra homem!
- Então vai ser!"
Os críticos de Juscelino Kubitschek frisam o fato de ele ter priorizado o transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário devido à implantação da indústria automobilística no Brasil, o que teria causado prejuízos econômicos como o crescimento das importações de derivados de petróleo (gasolina e óleo diesel) e petróleo, e também provocado isolamento e decadência de certas cidades. JK conseguiu entretanto, com a inauguração da
Refinaria de Duque de Caxias, em 1961, a autossuficiência do Brasil na produção de derivados de petróleo, passando o Brasil, a partir de então, a importar apenas a matéria-prima, produzindo os derivados de petróleo nas refinarias brasileiras.
A opção pelas rodovias é considerada, por muitos, danosa aos interesses do país, que estaria mais bem servido por uma grande rede ferroviária. Na
década de 1920, o presidente
Washington Luís também havia sido contestado por construir rodovias, sendo apelidado de "
General Estrada de Bobagem", um trocadilho com "estrada de rodagem"
[15]. Mesmo após o governo Juscelino, continuou forte, no Brasil, a oposição política à construção de rodovias: Na
década de 1960, em São Paulo, Ademar de Barros foi muito criticado por construir a
Rodovia Castelo Branco, tida, na época, como obra cara e desnecessária.
A dívida externa brasileira aumentou 1,5 bilhão de
dólares, chegando ao todo a 3,8 bilhões de dólares no final do governo JK. Esta dívida foi ainda agravada pelas altas remessas de lucros das empresas estrangeiras de "capital associado" e pelo consequente aumento do
déficit na
balança de pagamentos.
Houve também uma elevação da dívida interna brasileira em aproximadamente 500 milhões de dólares.
Apesar do crescimento econômico, segundo alguns críticos, o mandato de Juscelino Kubitschek terminou com crescimento da
inflação, aumento da concentração de renda e arrocho salarial. Ocorreram várias manifestações populares, com greves na
zona rural e nos centros industriais que se alastram nos governos seguintes.
De fato, a expansão do crédito, a grande quantidade de importações para indústria automobilística e as constantes emissões de
moeda - para manter os investimentos estatais e pagar os empréstimos externos - provocaram crescimento da
inflação e queda no valor dos salários. Em
1960, a inflação estava a 25% ao ano, subiu para 43% em
1961, para 55% em
1962 e chegou a 81% em
1963. O economista
Roberto de Oliveira Campos, um dos coordenadores do Plano de Metas, foi um dos primeiros economistas a alertar Juscelino para o caráter inflacionário da construção de Brasília. Durante o governo JK, a produção industrial cresceu 80%, os lucros da indústria cresceram 76%, mas os salários cresceram apenas 15%.
Porém, o
salário-mínimo do trabalhador brasileiro, em 1959, foi, considerado o mais alto, em valores reais, de todos os tempos.
Construção de Brasília
A construção de Brasília foi, sem dúvida, um dos fatos mais marcantes da história brasileira, e da política de JK no seu mandato de 5 anos como presidente, sendo uma das maiores obras do
século XX. A ideia de construir uma nova capital no centro geográfico do País estava prevista na
Constituição de 1891, na
Constituição de 1934 e na
Constituição de 1946, mas foi adiada, sua construção, por todos os governos brasileiros desde 1891.
A promessa de construir Brasília foi feita, por JK, no dia 4 de abril de 1955, em um comício, em Jataí, no estado de Goiás, quando, no final do comício, JK resolveu ouvir perguntas de populares, e, o estudante para tabelião Antônio Soares Neto, o Toniquinho, perguntou a JK se este iria cumprir toda a constituição do Brasil de 1946, inclusive o artigo referente a nova capital. "Toniquinho" se referia ao artigo 4º do "Ato das disposições constitucionais transitórias da Constituição de 1946" que dizia:
| Art 4º - A Capital da União será transferida para o planalto central do país. § 1 º - Promulgado este Ato, o Presidente da República, dentro de sessenta dias, nomeará uma Comissão de técnicos de reconhecido valor para proceder ao estudo da localização da nova Capital. § 2 º - O estudo previsto no parágrafo antecedente será encaminhado ao Congresso Nacional, que deliberará a respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o início da delimitação da área a ser incorporada ao domínio da União. § 3 º - Findos os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional resolverá sobre a data da mudança da Capital. § 4 º - Efetuada a transferência, o atual Distrito Federal passará a constituir o Estado da Guanabara. |
—Constituição Federal de 1946 |
O
Congresso Nacional, mesmo com descrença, aprovou a Lei n° 2.874, sancionada por JK, em 19 de setembro de
1956, determinando a mudança da Capital Federal e criando a Companhia Urbanizadora da Nova Capital —
Novacap.
As obras terminaram em tempo recorde de 41 meses — antes do prazo previsto. Já no dia da inauguração, em pomposa cerimônia,
Brasíliaera considerada como uma das obras mais importantes da arquitetura e do urbanismo contemporâneos.
Além da obediência à
Constituição, a construção da Nova Capital visava a integração de todas as regiões do Brasil, a geração de empregos, absorvendo o excedente de mão-de-obra da região Nordeste do Brasil e o estímulo ao desenvolvimento do interior, desafogando a economia saturada do Centro-Sul do país.
Política Externa
No plano internacional, Juscelino procurou estreitar as relações entre o
Brasil e os
Estados Unidos da América, ciente de que isso ajudaria na implementação de sua política econômica industrial e na preservação da democracia brasileira.
Formulou a
Operação Pan-americana, iniciativa diplomática em que solicitava apoio dos Estados Unidos ao desenvolvimento da América do Sul, como forma de evitar que o continente americano fosse assolado pelo fantasma do
comunismo.
Rebeliões
Corrupção
JK também foi acusado diversas vezes de
corrupção. As acusações vinham desde os tempos em que ele era governador, e se intensificaram no período em que ele foi presidente. As denúncias se multiplicaram por conta da construção de Brasília: havia sérios indícios de superfaturamento das obras e favorecimento a empreiteiros ligados ao grupo político de Juscelino. Outro caso rumoroso foi o da empresa aérea
Panair do Brasil, pertencente a amigos de JK, que foi acusada de possuir um
monopólio do transporte de pessoas e materiais enviados para a construção de Brasília. Durante a construção de Brasília, como a
BR-050 ainda não estava pronta, grande parte dos materiais e equipamentos utilizados na obra eram transportados por aviões.
A imprensa chegou a dizer que JK teria a sétima maior fortuna do mundo, o que nunca foi provado. Durante a campanha eleitoral de 1960, para a escolha de seu sucessor, as denúncias de corrupção contra JK foram amplamente exploradas pelo candidato
Jânio Quadros que prometia "
varrer a corrupção" do governo de JK. JK respondeu a inquérito policial militar (IPM) durante o
regime militar, acusado de corrupção e de ter apoio dos
comunistas.
A Panair do Brasil foi depois perseguida e levada à
falência pelo regime militar.
Quando de sua morte, porém, o seu inventário de bens mostrou um patrimônio modesto, tendo sua filha Márcia precisado vender um apartamento para financiar sua campanha eleitoral à Câmara dos Deputados.
Espiritismo
Há relatos dando conta de que o presidente Juscelino enviava perguntas ao médium Chico Xavier pedindo conselhos sobre problemas enfrentados durante a construção de Brasília, Concedeu indulto ao médium
José Pedro de Freitas, o "José Arigó", ou "Zé Arigó", que fora preso acusado de exercício ilegal da medicina. Existem relatos de que JK fazia parte da
Maçonaria, informação esta nunca confirmada pela maçonaria brasileira
[19].
A eleição do sucessor de JK
As eleições de
3 de outubro de
1960 foram vencidas pelo candidato oposicionista
Jânio Quadros, ex-governador de
São Paulo apoiado pela
UDN. Jânio obteve 48% dos votos válidos, em um total de quase 6 milhões de votos, a maior votação nominal obtida por um político brasileiro até então. Juscelino apoiou o marechal
Henrique Lott, seu
ministro da guerra (morto em 19.05.1984) e que havia garantido a posse de JK em 1955. Lott era o candidato a presidente pela aliança
PSD-
PTB que tinha
João Goulart candidato a reeleição como vice-presidente da república. A disputa entre Jânio e Lott foi chamada de
A Campanha da Vassoura contra a Espada. Ademar de Barros, novamente candidato, definiu-se como "
A candidatura de protesto", e obteve o terceiro lugar. João Goulart foi reeleito vice-presidente da república.
Ao passar a faixa presidencial para
Jânio Quadros, em 31 de janeiro de
1961, Juscelino tornou-se o primeiro presidente civil desde
Artur Bernardes, eleito pelo voto direto, que iniciou e concluiu seu mandato dentro do prazo determinado pela
Constituição Federal. Após JK, o primeiro presidente civil, eleito pelo voto direto, a cumprir integralmente seu mandato foi
Fernando Henrique Cardoso.
Anos Dourados
Kubitschek entre seus ministros e correligionários.
Após a retomada da democracia no Brasil em
1945, Juscelino Kubitschek e sua atuação como governador de Minas Gerais e na Presidência da República, foram referências para o Brasil entre os anos de 1951 e 1961. A era JK estava em todo canto, nos chamados "
Anos Dourados". Ao longo da
década de 1950, a economia brasileira foi industrializada rapidamente, passando de rural a urbana.
Nessa época foram se popularizando os eletrodomésticos, que prometiam facilitar a vida do lar. Eram de todos os tipos, desde enceradeiras até aspiradores de pó, carros, televisores, o rádio e os
toca-discos portáteis e o disco de vinil. Foram criados os objetos de
plástico e
fibra sintética, além de casas com mobílias com menos adornos.
Este estilo de vida foi criado nos Estados Unidos e recebeu o nome de "
American Way of Life", (estilo de vida americano), e, por conta da influência norte-americana durante e após a
Segunda Guerra Mundial, se espalhou pelo mundo.
Enquanto tudo isso se consolidava, os meios de comunicações e de diversões se ampliavam. Eram emissoras de rádios que através das ondas curtas chegavam grande parte do interior do Brasil, revistas como
Seleções e
O Cruzeiro, jornais,
radionovelas, o teatro de revista, programas radiofônicos de musicais e os humorísticos, o radiojornal
Repórter Esso e as comédias e as chanchadas da
Atlântida Cinematográfica do Rio de Janeiro. O
cinema brasileiro teve sua fase dourada, nos anos 1950, com a
Companhia Cinematográfica Vera Cruz, de São Paulo, e a premiação do filme
O Cangaceiro, no exterior, em
1953.
Os teatros, rádios, especialmente a
Rádio Nacional, radionovelas, radiojornais,
teleteatros e telejornais na televisão que já atingia a maioria das capitais brasileiras, tinham mais audiência que nunca. Em
1958, a
música popular brasileira é sucesso no exterior, especialmente a
Bossa Nova, criada naquela época, e com sucessos como "
Chega de Saudade" de
Vinicius de Moraes.
Os anos dourados inspiraram o espírito otimista e inovador, consagrando assim o governo de Juscelino Kubitschek.
Após a presidência
Em janeiro de 1960, pouco antes de deixar a presidência, JK deixou uma mensagem de agradecimento ao professor José Antero de Carvalho, na qual resume sua visão sobre seu governo e seu futuro político. A carta tinha o seguinte teor:
| Sinto-me satisfeito em poder proclamar que, na presidência da república, não faltei a um só dos compromissos que assumi como candidato. Mercê de Deus, em muitos setores realizei além do que prometi, fazendo o Brasil avançar, pelo menos,cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo. Pude ainda, através da operação Pan-Americana, despertar as esperanças e energias dos povos americanos para o objetivo comum de combater o sub-desenvolvimento. E todo este esforço culminou no cumprimento da meta democrática, quando o nosso país apresentou ao mundo um admirável espetáculo de educação política, que me permite encerrar o mandato, num clima de paz, de ordem, de prosperidade e de respeito a todas as prerrogativas constitucionais. Sejam quais forem os rumos de minha vida pública, levarei comigo, ao deixar o honroso posto que me confiou a vontade popular, o firme propósito de continuar servindo ao Brasil com a mesma fé, o mesmo entusiasmo e a mesmo confiança nos seus altos destinos! |
—Juscelino Kubitschek |
Voltou ao Brasil, logo depois das eleições de 3 de outubro de 1965, na qual dois aliados de JK e adversários do governo Castelo Branco,(
Francisco Negrão de Lima e
Israel Pinheiro da Silva), venceram as eleições para governador na
Guanabara e em
Minas Gerais, porém JK permaneceu pouco no Brasil, logo voltando para o exílio. Após esse segundo exílio voluntário, regressou definitivamente, ao Brasil, em 1967.
JK pretendeu voltar para a vida política, depois de passados os 10 anos que duravam as cassações de direitos políticos. Para dissuadi-lo, os militares usaram os fantasmas das denúncias de corrupção, buscando desmoralizá-lo politicamente. Eles ameaçavam levar as investigações adiante caso Juscelino tentasse voltar à cena política.
Apesar dos fortes indícios de corrupção e da pressão de alguns segmentos políticos e da opinião pública da época, JK nunca chegou a responder formalmente à Justiça pelas acusações de corrupção, porém respondeu aos IPM, inquéritos policiais militares.
Um ano antes de sua morte, seu nome ainda era proibido na televisão brasileira. Assim, a telenovela
Escalada, exibida em
1975, pela Rede Globo, na qual era tratado o tema da construção de Brasília, não pode mencionar o seu nome. O recurso usado pelo autor
Lauro César Muniz foi mostrar os personagens assoviando a música
"Peixe-Vivo" que identificava JK.
Morte
Faleceu em 22 de Agosto de
1976, em um desastre automobilístico em que também perdeu a vida seu motorista e amigo Geraldo Ribeiro, em circunstâncias até hoje pouco claras, no quilômetro 328 da
Rodovia Presidente Dutra, em um automóvel
Chevrolet Opala, na altura da cidade
fluminense de
Resende, no qual o veículo onde ele estava, colidiu violentamente com uma carreta carregada de gesso. Até hoje, o local do acidente é conhecido como "
Curva do JK", antes conhecido como " Curva do Açougue". Mais de 300 mil pessoas assistiram a seu funeral em Brasília, onde a multidão cantou a música que o identificava:
Peixe Vivo. Seus restos mortais repousam no
Memorial JK, construído em
1981, na capital federal do Brasil, Brasília, por ele fundada.
Em
1996, seu corpo foi exumado, para se esclarecer a causa de sua morte, levantando-se novamente a polêmica sobre o caso.
Representações na cultura e homenagens
Teve sua efígie impressa nas notas de Cz$ 100,00 (cem
cruzados) de
1986, e teve sua efígie cunhada no verso das moedas de 1
real, lançadas em
2002, no Brasil, comemorativas do centenário de seu nascimento.
| Qual seria o futuro se o ceticismo predominasse? Do chão de uma fábrica nasceu um presidente. É a evidência da semeadura generosa promovida pelo desassombro de JK. |
— Lula, elogiando Juscelino na comemoração dos seus 106 anos |
Cronologia sumária